Até ao fundo

spoiler alert

Num palco vazio de acessórios, sem efeitos de som ou luz - apenas um feixe de luz para iluminação da personagem que nos fala - Alex conta-nos a sua história, da sua família, da dúvida Deus.


Um homem despedaçado está a um metro de nós a contar-nos a morte da filha de 8 anos, entre desvios por episódios tão insignificantes como a compra do creme para o pé de atleta e tão marcantes como a descoberta da forma do fundo do mar. Na verdade, parecem já não ter significado nenhum depois do dia em que viu a filha morrer.

O actor, João Meireles, sufoca a plateia nos silêncios, controla-a com a sua própria respiração de tão perto e agarrada que está. Sente-se a tragédia desde as primeiras frases, só a curiosidade mórbida sobre qual será nos mantém ali, a seguir aquele homem ao precipício dentro de si.
A aparente falta de artifícios torna este monólogo arrepiantemente próximo, sofremos por fazermos parte daquela história, ficamos sem saber se devemos intervir ou sequer continuar a ouvir se não pudermos salvá-lo.
De forma muito crua é-nos dado o sofrimento, o último possível, que é o do pai que perde um filho. Afinal, nem nome para isso há...

O tempo do espectáculo é variável em cada apresentação mas, seja quanto for, é garantido que ninguém que chegue acordado sai dali indiferente.

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Meet The Author

Rita Branco Jardim é actriz de formação e escritora de inspiração. Começando pelos diários adolescentes e pelos embaraçosos concursos de escola, foi crescendo enquanto escrevia poesia, prosa poética e pequenas peças de teatro. Autora de blogs pessoais e culturais, criou o Sobre as Cenas, inicialmente apenas ligado à crítica de teatro mas que quer agora estar mais aberto a outro tipo de textos: os avulsos. Neste momento, escreve no Sobre as Cenas sobre teatro e o que mais lhe der na real gana. Bem-vindos ao Sobre as Cenas!