Num palco vazio de acessórios, sem efeitos de som ou luz - apenas um feixe de luz para iluminação da personagem que nos fala - Alex conta-nos a sua história, da sua família, da dúvida Deus.
Um homem despedaçado está a um metro de nós a contar-nos a morte da filha de 8 anos, entre desvios por episódios tão insignificantes como a compra do creme para o pé de atleta e tão marcantes como a descoberta da forma do fundo do mar. Na verdade, parecem já não ter significado nenhum depois do dia em que viu a filha morrer.
O actor, João Meireles, sufoca a plateia nos silêncios, controla-a com a sua própria respiração de tão perto e agarrada que está. Sente-se a tragédia desde as primeiras frases, só a curiosidade mórbida sobre qual será nos mantém ali, a seguir aquele homem ao precipício dentro de si.
A aparente falta de artifícios torna este monólogo arrepiantemente próximo, sofremos por fazermos parte daquela história, ficamos sem saber se devemos intervir ou sequer continuar a ouvir se não pudermos salvá-lo.
De forma muito crua é-nos dado o sofrimento, o último possível, que é o do pai que perde um filho. Afinal, nem nome para isso há...
O tempo do espectáculo é variável em cada apresentação mas, seja quanto for, é garantido que ninguém que chegue acordado sai dali indiferente.
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