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Artistas Unidos |
A vítima que escapou, Claire, dedica a partir daí a sua vida a tentar perceber o que levou àqueles acontecimentos: ele era louco ou ele era mau?
Há um enorme coro para o pequeno palco do Teatro da Politécnica que vai cantando a estória, a consciência e os que sobreviveram ao massacre ou vieram depois lidar com o que sobrou de Claire. O coro mantém uma energia muito intensa ao longo do espectáculo, mantém-nos alerta, mantém-nos em suspensão à espera dos acontecimentos.
A encenação de António Simão é rápida nas mudanças (o actor faz várias personagens consecutivamente, o espaço-tempo está sempre a mudar) e obriga a atenção constante, é tudo muito orgânico, as cenas sucedem-se quando ainda julgamos estar numa só. Interessante, difícil, para nós e para os actores, no que também parece ser uma exigência do texto que não apresenta indicações para as mudanças de cena e personagens. Dá ideia de que tudo o que vemos é apenas a cabeça de Claire, para trás e para a frente em lembranças para tentar construir um puzzle aparentemente sem solução. Um dos momentos mais impressionantes é o do bebé imaginário que deixa a pessoa-boa e a pessoa-má em cada um de nós sem respiração moral.
É a história de como lidar com uma perda, com um trauma tão grande, como lidar com a sobrevivência. E o Rapaz está vivo. E a Claire está viva. Os outros estão mortos. Ela quer perceber, quer perdoar e quer matar o Rapaz. Não sabemos se acabou por conseguir alguma das três. Sabemos que ao mesmo tempo que luta contra loucura, luta contra o tornar-se uma pessoa má, as únicas saídas que parecem possíveis para quem sobreviveu àquele tipo de acontecimentos. É um drama humano o que vemos e que põe a nossa própria humanidade à prova.
O Rapaz: Tu devias ser popular. Os miúdos populares acham que as pessoas são naturalmente boas. Mas não é verdade. As pessoas são naturalmente más. Quando se é um miúdo impopular na escola, fica-se com uma visão da humanidade muito especial. Com icterícia, podes dizer.
Claire: É deprimente.
O Rapaz: Não acho. Acho até libertador. Os padrões pelos quais temos que viver são bastante baixos.
Em Os Acontecimentos
Os Acontecimentos, em cena no Teatro da Politécnica de 11 de Fevereiro a 14 de Março de 2015
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