Viva!

O teatro musical em Portugal pode não ter grande encanto para o habitual público de teatro português e a sua carga pseudo-intelectual. Não existindo a tradição americana, é fácil cair-se na comédia popular, simplista e directa que pode funcionar em termos de quantidade de espectadores mas nem sempre em conteúdo do espectáculo. É inegável que existem produções de qualidade nesta área com diversos estilos, desde a linha de Filipe La Féria à de Henrique Feist ou Fernando Gomes, por exemplo.


Viva o casamento, texto de Fernando Gomes inspirado na novela de Eça de Queirós Alves & cia., é aqui levado a cena por Luís Pacheco, numa clara continuação da linha do autor.
Mais que a história contada, o que viemos ver e levamos para casa é a construção das personagens, na sua teatralidade, as recorrências cómicas e a muito bem conseguida comédia dos momentos musicais.

Em Viva o casamento faz-se uma ode ao amor, mais concretamente ao que a irracionalidade que lhe é inerente provoca. Alfredo Pato, ansioso por surpreender a esposa no seu aniversário de casamento, acaba por ser surpreendido por outra evidência do amor, na qual não está incluído. A partir daí a defesa da honra impõe-se mas apenas enquanto valores mais altos não se sobrepõem, como o de manter as aparências. Opta-se pelo esquecimento porque afinal "tudo se esquece quando é perigoso lembrar".

A cumplicidade entre as duplas Glória e Lurdes, Teles e Carvalho e sobretudo Pato e Salvaterra é deliciosa e o espalhafato, os trejeitos e os tempos cómicos que nos oferecem garantem o sucesso do espectáculo.
Sim, há momentos mais directos e populares no texto e na encenação, mas há também incontornáveis apontamentos de muito bom trabalho de actor que garantem gargalhadas em todo o tipo de público. É uma boa comédia e isso, apesar da ligeireza associada à palavra, é das coisas mais difíceis de conseguir.

De sublinhar ainda que todos os outros elementos do espectáculo, desde o cenário aos figurinos, acessórios, luz e música são fundamentais para a sua credibilidade que nos transporta para os anos 60 em Lisboa e para um bom momento de teatro!

Viva o casamento  em cena:
6ª e Sábado às 21:30h
Até 1 de Março
Pela Arte Viva - Companhia de Teatro do Barreiro





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Meet The Author

Rita Branco Jardim é actriz de formação e escritora de inspiração. Começando pelos diários adolescentes e pelos embaraçosos concursos de escola, foi crescendo enquanto escrevia poesia, prosa poética e pequenas peças de teatro. Autora de blogs pessoais e culturais, criou o Sobre as Cenas, inicialmente apenas ligado à crítica de teatro mas que quer agora estar mais aberto a outro tipo de textos: os avulsos. Neste momento, escreve no Sobre as Cenas sobre teatro e o que mais lhe der na real gana. Bem-vindos ao Sobre as Cenas!