No more tears

Há uma miúda que dança, maquilha-se, canta, grita, finge que chora... Mostra-se-nos. 
Depois de fazer de sofrida estrela de cinema, explica-nos o seu problema: deixou de conseguir chorar desde que acabaram os champôs que irritavam os olhos. Chorar era o seu escape dos estranhos sorridentes que lhe invadiam a vida, mas só o conseguia fazer com champô nos olhos.
E agora? Como viver sem chorar, sem essa libertação?

Fotografia de Laura Tomaz

A partir do poema de Adília Lopes, No more tears, Susana C. Gaspar e Laura Tomaz dão-nos, num primeiro impacto, a sensação de sermos espectadores do país das maravilhas, onde a Alice nos vai contando a sua infância.
Como nos diz a própria personagem, todos nós fizemos birras, muitos queríamos fugir das visitas lá de casa, ou da vida lá de casa, e esconder-nos no nosso sítio secreto. Agora, estamos nesse sítio, numa casa-de-banho e por isso podemos saber todos os dramas infantis desta menina-mulher que adorava ver-se ao espelho a chorar.


Susana C. Gaspar está de facto como se estivesse na sua casa, domina perfeitamente a cena. Apresenta boa voz, dicção e corpo, fala com o público como uma criança fala para a sua plateia de bonecas: não espera resposta mas continua a emocionar-se e a emocionar com tanta gestualidade e vontade de sentir. Tudo dentro da artificialidade com que as crianças se conseguem expressar.

Pela interpretação e texto expõe-se de forma deliciosa o ridículo dos sentimentos infantis (evidentemente depois de passados pelo filtro da maioridade).
Pode parecer falso, mas o que são os teatrinhos, as cenas que fazemos apenas para nós próprios, em frente ao espelho?


A encenação de Laura Tomaz (direcção criativa) parece simples, faz-nos seguir o desenrolar da história sem grandes compromissos intelectuais, o que pode ser uma lufada de ar fresco.
Tem momentos bastante cómicos, seja pelo absurdo ou por brincar com toda a falsidade associada ao teatro e ao cinema.

A cenografia, de Rectângulo Azul, é elaborada no ponto certo. É realista quanto baste para sentirmos o intimismo da cena, sem ser distractiva.

Aqui, temos estes quinze minutos apenas para assistir a uma pequena rainha do drama a mostrar-nos todo o seu sofrimento. É um momento ideal para descontrair, para nos rirmos de nós na nossa feminilidade, para sairmos leves. Leves e com muita pena que já tenha acabado.

Quem nunca saboreou um bom choro sem motivo, que atire a primeira pedra.

Design gráfico - Paula Tomaz


1 comentários:

  1. muita merda. já trabalhei textos da adilia lopes e conheço bem e não é pera doce assim tudo de bom pra espectaculo lucinda loureiro

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Meet The Author

Rita Branco Jardim é actriz de formação e escritora de inspiração. Começando pelos diários adolescentes e pelos embaraçosos concursos de escola, foi crescendo enquanto escrevia poesia, prosa poética e pequenas peças de teatro. Autora de blogs pessoais e culturais, criou o Sobre as Cenas, inicialmente apenas ligado à crítica de teatro mas que quer agora estar mais aberto a outro tipo de textos: os avulsos. Neste momento, escreve no Sobre as Cenas sobre teatro e o que mais lhe der na real gana. Bem-vindos ao Sobre as Cenas!