Desde o primeiro momento a carga sexual da cena pesa-nos pela posição dos corpos, pelos gemidos e pela música, para logo a seguir ser quebrada com algo tão infantil como comer gelatina. No entanto, logo percebemos que não é de gelatina que se trata aqui, mas de um desejo nada infantil que domina o professor Roberto, que o consome, que faz dele predador e vítima de um desejo proibido pela pequena Maria.
Já todos conhecemos a história do professor que se aproveita da sua relação de autoridade, e da autoridade que o dinheiro também dá, para violar a ingenuidade infantil da criança que é obrigada a crescer. Aqui, a novidade é a proximidade do público à cena, proporcionada pelas particularidades do espaço que é o Teatro Rápido. O espectador está em palco, senta-se no cenário e o desespero, o medo crescente de ambas as personagens ecoa-nos na cabeça, quase nos faz intervir.
Esta proximidade deve, no entanto, ser tida em conta na interpretação dos actores, por vezes demasiado estridente e agressiva para um público que está a um palmo de distância.
Sentimos isso na interpretação de Rafael Dias Costa, tendo Sofia Helena uma interpretação mais introspectiva e pungente, que nos emociona.
O twist final, apesar de quase previsível, continua a ter bastante impacto, mais uma vez devido à proximidade do público e à intensidade das interpretações.
É a história de uma libertação sofrida que talvez já não venha a tempo de resgatar o que foi roubado à menina-mulher, mas que se transforma na única forma que ela tem de começar a viver, talvez dentro de uma nova prisão, talvez livre de todos os seus fantasmas.
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