A pessoa que vemos, apenas através da pouca luz de bolso que alguns de nós levam, não sabemos se é real ou inventada, se o que diz existe ou apenas existe na sua cabeça, se é uma arquitecta que degenerou em sem-abrigo ou se é só uma mulher desesperada por amor.
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Fotografia João Passos |
O texto, de Tiago Torres da Silva, viaja entre as promessas quebradas de um casamento, as promessas eleitorais dos partidos políticos, a pobreza devido ao desemprego, a vulnerabilidade de cada um de nós nos tempos que correm e tudo isto muitas vezes de uma só assentada.
Aquilo com que ficamos é uma mulher que perdeu tudo, e no desespero, tudo se confunde, as causas com os efeitos, o que podemos mudar com aquilo a que temos que nos conformar, uma manifestação no parlamento com um divórcio.
A interpretação de Maria Carson é emocional ao limite. A actriz desfaz-se à nossa frente, dá-nos tudo o que tem e só esperamos que consiga reconstruir-se até à próxima sessão. É uma entrega excepcional, que pode apenas pecar pelo excesso dramático que a encenação lhe exige.
Este espectáculo, começa já a aproveitar as particularidades oferecidas pelo espaço e conceito que é o Teatro Rápido. É o público que gere a iluminação e a falta dela, é a actriz que interage com ele quando precisa de mais ou menos luz.
E é com estes pormenores, que são fundamentais ao espectáculo, que o Teatro Rápido tem a ganhar. Aqui, podemos fugir do espaço cénico convencional e à relação público-palco habitual e é uma boa surpresa quando isso acontece.
Nem mais.
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