João Pedro Mamede entra pelo público dentro, desconcerta, faz-nos duvidar se não é mesmo o Sebastian que ali está, um qualquer Sebastian que ali está. A força com que nos confronta, com que pede respostas, a veemência com que nos acusa de o destruir, de nos destruirmos numa vida vazia, sem propósito que não o de sobreviver, torna impossível ficar indiferente.
A dicção, o corpo e sobretudo o olhar são tão eficazes que por vezes pode ser difícil não desviarmos o nosso para o evitar.
Quanto à mensagem, apesar de parecer o contrário, pode ser fácil culpar o sistema, culpar todos os que fazem parte dele, culpar a multidão anónima em vez de pensarmos que parte da culpa é a nossa por não tentarmos contrariar tudo isso, por não fazermos por nós algo melhor, maior, do que o que temos à nossa volta. É difícil ser diferente? Será. Mas, felizmente, nem todos os que desistem de lutar por si, decidem antes matar quem estiver no seu caminho.
Concordando ou não, é indiscutível que este espectáculo serve para acordar quem ainda não tiver percebido o que se está a passar no meio de tantas vidas vazias. O mais difícil será talvez o murro no estômago que levamos de cada vez que nos apercebemos da possível falta de sentido de cá estarmos.
Ao sairmos da sala podemos levar Sebastian Bosse na memória enquanto mártir da sociedade ou assassino imperdoável. Se conseguiu pôr-nos a pensar em tudo isto, é porque é sem dúvida um óptimo espectáculo.
Gosto do teu comentário e sou capaz de o subscrever integralmente,pois vi o espectáculo e agradou-me bastante;quer ao nível do próprio texto,quer da representação do João Pedro Mamede.
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