Em Sala VIP, de Jorge Silva Melo, pouco parece estar acontecer nos momentos iniciais. O desconforto do silêncio dá lugar a risinhos nervosos entre o público, ansioso por ver acção.
Ao longo da peça, vamos percebendo que as coisas maiores ficam nos silêncios, num universo que nos faz lembrar Tchecov, onde a calma, a lentidão, o aparente vazio são cortados por pensamentos avulsos de uma simplicidade e humanidade tal que nos desconcerta.
Perdidas nos seus pensamentos, as personagens, como as pessoas, reagem à conversa alheia com aquilo que está dentro da sua cabeça. O diálogo é construído de pequenos monólogos, que vão tendo seguimento espaçadamente ao longo de todo o espectáculo.
O interessante nestas personagens é precisamente a sua realidade, no sentido de humanidade.
São artistas em decadência, como o próprio mundo de glamour e requinte em que costumavam viver, cheios de banalidades como a mais banal das pessoas, cheios de sensibilidade como a mais genial.
Quanto ao texto, são brilhantes as recorrências, as metáforas, a imagética que nos é sugerida.
É tragicómico, cheio de recantos em que o absurdo esconde o turbilhão de sentimentos, que nós, para além das personagens, também sentimos.
Também a encenação, de Pedro Gil, nos faz experimentar estes desalinhos. A sua crueza nalguns momentos choca-nos pela frontalidade, noutros faz-nos rir e quase sempre nos emociona a partir do momento em que entramos no jogo de ritmo e tempo que é este espectáculo.
Com Andreia Bento, Maria João Falcão, Elmano Sancho, António Simão e João Pedro Mamede em interpretações esplêndidas, aceitamos um pouco o papel de Big Brother para confirmar as relações entre pessoas, os interesses, as fragilidades, o desejo, o medo, tudo aquilo que faz de nós Homem. E aqui, o bicho-homem é entregue a si mesmo e fechado entre quatro paredes, e então: oh baby baby it's a wild world.
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