Podem ser difíceis por nos fazer adormecer, podem ser difíceis porque os textos são demasiado presunçosos mas sem significado, podem ser difíceis porque o actor não chega aos calcanhares de todos os outros elementos.
Não é nada disso que se passa aqui.
O texto, de Manuel Almeida e Sousa, varia entre o absurdo, o aforismo, o cómico, o drama e o lugar-comum. Tudo isto numa encenação rapidíssima que deixa o público constantemente alerta, confuso, esbugalhado, só a respirar em momentos poéticos como quero que os teus lábios de papel flutuem nos meus almoços ou as almas perdem-se na rua como pássaros, como borboletas... e depois morrem.
Do que sentimos mais falta é precisamente de momentos para respirar, para sentir, absorver, para entrar naquele universo sofrido e perturbado até à gargalhada nervosa.
Cláudio Henriques salva-nos do precipício da desistência. O actor transfigura-se a cada passagem e agarra-nos à sua vontade de estar ali. Está irrepreensível do absurdo ao emocional, do provocador ao sentimental, enche todo o espaço a cada momento, e se nos perde, é pela rapidez das passagens e nunca pela sua energia. Está sempre ali e a dar tudo e por isso é a ele que agradecemos no final aquilo que levamos.
Os monólogos são quase sempre difíceis.
Este não é porque o actor não deixa.
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