"O não-lugar é diametralmente oposto ao lar, à residência, ao espaço personalizado. É representado pelos espaços públicos de rápida circulação - como aeroportos, estações de metro e pelas grandes cadeias de hotéis e supermercados. Só, mas junto com outros, o habitante do não-lugar mantém com este uma relação contratual representada por símbolos da supermodernidade; cartões de crédito, cartão telefônico, passaporte, carta de condução, enfim, por símbolos que permitem o acesso, comprovam a identidade, autorizam deslocamentos impessoais." Marc Augé
O Sobre as Cenas foi à 3ª edição do Não Lugar, no Primeiro Andar, foi conhecer o conceito, os criadores e sobretudo fazer parte dele, senti-lo de dentro.
Este Não Lugar é precisamente um lugar, porque aqui apesar de ninguém se conhecer, ninguém saber exactamente o que está para acontecer, partilha-se intimidade no escuro, sente-se o nervoso por estar mesmo ao nosso lado, ri-se, pasma-se, mas sobretudo: nada é impessoal.
Poder-se-ia dizer que é um espaço de experimentação, de mostra de performances mas nem sempre o que se apresenta é uma encenação, algumas são só emoção, outras só demonstração/explicação, outras simplesmente uma mensagem.
Um dos criadores deste projecto, Alix Sarrouy, explica-nos isso mesmo no início da noite: o Não Lugar é um espaço onde tudo pode acontecer, até o público tem à disposição um microfone para poder intervir sempre que sentir essa urgência. Há também um caminho desenhado no chão em direcção à saída para quem sentir que aquele não é o seu lugar, naquele momento, a qualquer momento.
O que torna cada Não Lugar único é também o facto de não se repetirem fórmulas dos anteriores, tudo depende do hoje e do agora, cada um começa do zero, de um espaço novo. Os próprios artistas não sabem exactamente o que os outros vão fazer e o público também não sabe quem vem ver, mesmo que se surpreendam com caras conhecidas, não é feita publicidade porque o Não Lugar não é em torno de alguém, mas de todos.
Durante um par de horas vimos luzes acenderem-se na escuridão para pessoas que tinham algo a partilhar connosco. Ouvimos música, canto, anedotas em línguas estranhas, ideias sobre agricultura e química, sons estranhos antes da música acontecer, silêncios partilhados, tristeza e revolta que nem sempre percebemos.
O que se passa é que ali cada um pode ser o que quiser e é convidado a partilhar alguma coisa, sua ou não, inventada ou sentida, o que importa é existir, acontecer.
Aqui, também o público tem que dar um pouco de si para poder receber. A todo o momento o foco de atenção muda, a intensidade, a língua, a intenção e nós rodamos no chão sobre o nosso próprio corpo à procura daquilo que queremos ver, à procura do sítio certo, quando a toda a nossa volta as coisas estão a acontecer.
O Não Lugar não é fácil porque não tem guião, nem folha de sala nem sequer objectivo definido.
Tem pessoas. E isto é tudo o que podemos esperar.
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