Este Fausto, dizem-nos os dramaturgos, explora mais o "tão contemporâneo problema da gratificação imediata e das suas consequências", é a sede de conhecimento total e imediato que leva Fausto a vender a alma ao Diabo
A novidade: quer Fausto, quer o Diabo sabem que tudo não passa de uma encenação, as vozes distorcidas, os efeitos de luz servem de distracção ao que se passa de facto, Fausto está a passar pela vida sem a sentir. E ela consome-se, demasiado rapidamente.
Filipe Ferreira |
O texto, rico e cómico nalguns momentos, pode parecer demasiado presunçoso ou pseudo-profundo na generalidade e uma das personagens diz-nos isso mesmo: é muito interessante o que está a dizer, mas não se importa de desenvolver?
É portanto uma escolha a apresentação artificialmente poética da desdita de Fausto, o que contrasta notavelmente com os figurinos e o cenário marcadamente contemporâneos e aparentemente directos, bem como com a languidez de um Mefistófeles cansado ou o histerismo de um Fausto que diz não sentir nada, apesar de não parar de se exasperar com tudo.
Pedro Lacerda é uma lufada de ar fresco na interpretação em Fausto, ainda que mantendo o seu estilo que pode atirar-nos para um universo tchekoviano, é ele que, entre narrador e guia das outras personagens, gere os momentos mais altos do espectáculo.
A operação de som e a utilização do espaço cénico poderão ser os pontos mais surpreendentes e interessantes desta reconstrução livre das obras Fausto, de Fernando Pessoa e Doutor Fausto, de Cristopher Marlowe.
Filipe Ferreira |
É mais uma história de condenação em troca do prazer, bem-vindo aos nossos dias Fausto.
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