Em baixo e em cima, pela Companhia da Esquina, vem a propósito de Beckett, a propósito do absurdo, a propósito da sua dramaturgia formada por uma existência de hábitos repetidos até à inevitável perda de sentido, diz a folha de sala.
Num trabalho de interpretação e corporalidade exaustivo Sérgio Moras, Sérgio Moura Afonso e Ruy Malheiro dominam o espaço e a cena, pouco há para além deles, nada aliás, além de uma mala que faz lembrar a de Pandora, parece que toda a existência depende dela.
Se os dois primeiros nos submergem nos jogos de palavras aparentemente sem sentido a uma velocidade alucinante, Ruy Malheiro vem cortar completamente com essa energia em corrupio, dando-lhe uma lentidão, igualmente intensa, no tempo certo para absorver a nossa atenção.
A encenação, de Jorge Gomes Ribeiro, é simples, é limpa de modo a permitir que a palavra, e as imagens por ela criadas, flua livremente, deixando espaço ao actor e ao público. Quer-se "um trabalho de laboratório", sendo natural que cada cena viva da experimentação dos actores a cada momento.
É como se o público fizesse parte dos jogos daquelas personagens, brincam connosco, enquanto brincam também com as frases impossíveis e disfuncionais que afastam qualquer parecença com a realidade. Será assim?
Não parece assim tão improvável que uma viagem de metro mostre discussões bizantinas entre pessoas que lhes dão a importância de uma guerra mundial e, ainda assim, mal se ouvem.
No entanto, aqui apenas o "caos é o objectivo dramático", deixemo-nos de paralelismos poéticos, afinal "a vida não tem significado transcendental."
* todas as citações presentes do texto foram retiradas da Nota de Encenação da folha de sala do espectáculo
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