a mais terna ilusão, de Cátia Terrinca e Ricardo Boléo, surge para celebrar os cem anos de O Marinheiro, de Fernando Pessoa e insere-se em Pessoa revisited again, um projecto com várias propostas para relembrar Pessoa, a decorrer no Teatro Turim e na casa Fernando Pessoa até ao fim de Dezembro.
O trabalho de actor é a base deste espectáculo - para enaltecer o texto sublime de Pessoa, não há quase nada mais a pôr-se no caminho desta personificação.
Cátia Terrinca, na quase imobilidade ao longo de toda a cena, mostra uma interpretação pungente, quase quase demasiado sofrida mas que não chega a sê-lo, a actriz consegue manter-se sempre apesar da queda emocional progressiva da personagem.
As imagens criadas pelo trabalho de luz, pelo figurino e corpo da actriz são muito interessantes e adequam-se na perfeição ao que nos é transmitido pelo texto. Um misto de sonho, realidade e plácido desespero (se isto é possível, é porque falamos de poesia) embalam todo o texto, relembrando-nos o génio incontornável de Pessoa.
Este é o espectáculo. Faltou-nos ver mais ideias de encenação para além da récita do poema, faltou-nos algo que transformasse indubitavelmente a declamação em teatro para além da angústia da personagem.
Faltou-nos perceber porque é que a actriz não vem agradecer os aplausos ao palco.
Se a ideia é mostrar Pessoa, puro e duro, e destinar-lhe a ele os agradecimentos também, então é um espectáculo muito bem conseguido.
É bom sairmos com a ideia de que a palavra pessoana continua hoje com tanta força.
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