Ch-ch-ch-changes


Mudança sim, mas não tanta.
Chateia-me visceralmente a necessidade que hoje existe de matar o teatro clássico em nome de uma evolução para o espaço conceptual, abstracto, livre, sem sentido.
Não me chateiam as performances que não querem dizer ou fazer sentir nada, não gosto, mas não chateiam porque não penso nelas. Agora, não venham é chamar-lhes teatro.
A não esquecer, para uma amante como eu, daquilo que é sentir o teatro:

- As coisas más, não passam a ser boas só porque são assumidas.

- Estar nu, já não é chocante, portanto, sem justificação torna-se apenas inútil e desnecessário, chato, aborrecido, repetitivo.

- O público não é uma opção, é fundamental ao Teatro. O não interesse em passar uma mensagem ou em fazê-lo sentir, é apenas egoísta e fácil.

- Os actores, adereços e cenários podem ser bonitos e glamorosos, porquê a necessidade actual em mostrar que o actor de teatro é aquele que se desprende dos bens materiais, da moda e do dinheiro? Ao querer afastar-se das imagens de divas do espectáculo, cria-se hoje a ideia de que para ser artista, é preciso não ter o mínimo de preocupação com a aparência. A diferença em vez de ser uma liberdade, torna-se hoje numa obrigação.

- A palavra, o texto, a personagem, não são apoios ao "teatrinho", são instrumentos do sentir, do mostrar, do representar que fazem do teatro o que é e sempre foi. São trabalho, ao contrário de um conjunto de performances de 10 minutos, que hoje em dia chega para construir uma peça.

- Shakespeare, Molière, Tchecov não são piadas antigas das quais os verdadeiros artistas actuais têm que se desprender. Como aliás devem desprender-se de tudo, visto que basta estarem em frente ao público em silêncio, nus talvez, para serem os melhores artistas do ano para os novos intelectuais, que percebem sempre toda e qualquer mensagem, mesmo que o artista não tenha sequer pensado numa.

O teatro vai muito para além de qualquer Praga, de qualquer um de nós, de qualquer tempo. Isto que agora se aprecia como espectáculo total, cheira apenas à explosão de fanicos interiores que todos nós às vezes temos, mas apenas alguns decidem que o resto do mundo terá interesse em apreciá-los.

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Meet The Author

Rita Branco Jardim é actriz de formação e escritora de inspiração. Começando pelos diários adolescentes e pelos embaraçosos concursos de escola, foi crescendo enquanto escrevia poesia, prosa poética e pequenas peças de teatro. Autora de blogs pessoais e culturais, criou o Sobre as Cenas, inicialmente apenas ligado à crítica de teatro mas que quer agora estar mais aberto a outro tipo de textos: os avulsos. Neste momento, escreve no Sobre as Cenas sobre teatro e o que mais lhe der na real gana. Bem-vindos ao Sobre as Cenas!